terça-feira, 15 de outubro de 2013

Ceciliando > 1

"...Traga teus gestos. Me traga. Seja minha prosa incoerente, na escuridão do quarto ou na luz que invade a janela e escorre pela cama. Seja meu Chico. Faça-me tua Cecília."


"Existe parte mórbida que se esconde atrás de cada beleza. Um rasgo nos bolsos, remendo nas juntas. Há quem disserte sobre as cores, o véu de seda que oculta o sorriso. Penso que é bonito falar sobre o riso, o timbre que arrepia, a voz que resguarda. Às vezes, quando o sol de põe e tinge o céu, vejo as nuvens me sorrirem como quem sente a ânsia de reciprocidade, porque a vida é feita em suspiros de êxtase e eu quero, eu quero fazer desenhos de algodão doce nas nuvens. Mas eu só enxergo a tristeza, my dear. Os rostos estão na direção oposta, e eu corro na contramão esperando que alguém venha comigo. O pranto que escorre não é capaz de assassinar o desejo de sentir seus dedos trêmulos nos meus. A dor aguda dentro do peito não tem força para me puxar com a maré. Os joelhos não aguentam o peso do mundo, pois que então me levem para outro. Os pés fraquejam, e continuo. Tropeço e sigo. Existe uma criança desamparada que banha o travesseiro, mas não permite o mundo sujo impregnar os sonhos. Chamem-me de iludida porque tento fazer do cinza qualquer cor que cause lembrança risonha. Chamem-me de sonhadora, porque sou. Eu só enxergo a tristeza, my dear, mas não abro mão da vontade de ser alegria." 

 

 


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